segunda-feira, dezembro 22, 2003

O Natal e o comércio

Existem sempre algumas compras de Natal que prefiro fazer no comércio tradicional.
Lojas únicas em ruas únicas, objectos que fogem à uniformidade dos centros comerciais.
Fui até à Rua de Cedofeita, dar uma volta e ver se arranjava ideias para as últimas prendas.
Acabei a entrar numa loja, daquelas que tem todo o tipo de coisas para a casa, loiças, talheres, tabuleiros… de tudo um pouco.
Enquanto a empregada que me atendia fazia os embrulhos com esmero, ia falando.

Dizia ela:
“Se eu pudesse, passava por cima do mês de Dezembro, do mês do Natal.
Hoje tive 20 minutos para almoço, ainda tentei ir a uma loja aqui ao lado fazer uma compra, mas nem consegui chegar a ser atendida. Os empregados comerciais deviam ter um dia para fazer as compras, mas não, neste mês trabalhamos domingos e feriados. E não é depois de um dia todo em pé que estamos com forças para ir para a confusão de centros comerciais.”


Não pude deixar de concordar, tenho a sorte de poder definir eu o meu horário, se entro mais tarde, saio mais tarde, se preciso de faltar um dia, compenso nos outros, o importante é o trabalho ser feito.

E continuou:
“Amanhã a minha filha faz anos, e eu não lhe comprei nada. Vou-lhe dar dinheiro e ela vai comprar a prenda. Agora já é grande e vai festejar com os amigos, mas imagine o que era, quando era pequena, nunca ter a mãe presente na festa de anos, e eu ter de deixar tudo preparado, para a festa da família.
E agora, com os Centros Comerciais, as coisas estão piores para os empregados do comércio tradicional, porque a coberto da crise, da necessidade de vender, acabamos a tentar estar o máximo de tempo abertos, para tentar vender o máximo.”


Lembro-me de há uns anos, uma amiga que trabalhava numa loja me dizer que o mês do Dezembro era o que permitia manter a loja aberta. Nesse mês vendiam tanto como nos restantes 11 meses do ano.
Por isso, todo o tempo que conseguem estar abertos é precioso. E imagino que fazem horários próximos dos dos estabelecimentos dos centros comerciais, mas sem o correspondente aumento de pessoal para o trabalho por turnos.

Os embrulhos ficaram prontos e eu despedi-me, desejando um bom Natal.

E querem saber o que é irónico?
As prendas que comprei podia tê-las comprado em qualquer centro comercial.

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