sexta-feira, janeiro 30, 2004

Bibbidi bobbidi boo.

Estamos a ensaiar músicas da Disney. E não pensem que por serem músicas para crianças são fáceis. Tentem cantar esta. Eu para já sou um desastre. Vamos ver se o tempo e o treino ajudam.

Bib bi di bob bi di bib bi di bob bi di bib bi di bob bi di boo

Salagadoola menchicka boola
Bibbidi bobbidi boo.
Put 'em together and what have you got.
Bibbidi bobbidi boo.


Como minhota que sou já estou habituada a trocar letras, mas até há bem pouco tinha-me ficado nos “b” pelos “v”. Agora estou a alargar horizontes e a aprender a trocar coerentemente os “b” pelos “d”. É um exercício interessante, porque quanto mais pensamos a letra mais erramos no que dizemos, chega a uma altura que o único som que acerta o local é o “Boo”, e se acerta o local, erra o tom. Só vai funcionar quando deixar de ser pensado e quando sair naturalmente, tal qual uma criança o faria.

O meu erro é não conhecer esta música de miúda. Não querendo parecer anúncio comercial, eu ainda sou do tempo em que não existiam vídeos, e o filme da Cinderella foi algo que não me levaram a ver ao cinema.

E para mim, não era a Cinderella, mas a Gata Borralheira dos livros de histórias que existiam em casa, livros grandes, de capa dura e lombada amarelo girassol, com pinturas bem elaboradas como ilustrações. Colecção que ainda resiste. Resistiu à minha leitura, à dos meus dois irmãos e à rápida passagem por eles da minha filha. O encanto para ela era bem mais reduzido, face a tudo o resto que a rodeava, e que lhe despertava a atenção.

O país evoluiu muito em trinta e tal anos. O 25 de Abril foi um marco, eu senti-o nos meus seis anos de idade. Passou-se de um “orgulhosamente sós” para uma permeabilidade ao que vinha de fora, as telenovelas brasileiras foram o primeiro indício mas muitas outras coisas se foram seguindo. Mais músicas, mais livros, mais desenhos animados, mais brinquedos, mais guloseimas, mais, mais, mais…

Passou-se de uma cultura de sobrevivência para uma cultura de vivência.

Não foi imediato, nada é imediato. Mas foi muito rápido, dez anos transformaram completamente o país. O aumento do poder de compra, as importações de coisas até então não disponíveis, ou não acessíveis ao cidadão de bolso médio, a alteração de gostos, melhor, a satisfação possível dos gostos. As taxas de juros altíssimas que nos davam a sensação de riqueza de alguém que consegue viver unicamente de rendimentos.

Podem achar que é tolice mas acho que existe algo que caracteriza extremamente bem este período e mudança que ele implicou no nosso país.

São as Bombocas, alguém se lembra? Bolacha por baixo, fina camada de chocolate por cima, e no meio uma espuma leve, doce, colorida, que não matava fome nenhuma. Algo pensado unicamente em função da gulodice, um não-alimento. Podiam-se comer dúzias e nem por isso sentir a barriga cheira. Era uma oferenda aos sentidos. A vivência em vez da sobrevivência.

Bib bi di bob bi di bib bi di bob bi di bib bi di bob bi di boo

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