Este texto faz parte de um blog brasileiro que me dá gosto visitar. Elas por Elas. Como não dá para fazer links directos ao texto, copiei-o para aqui. E já agora que estava a mexer nele, aproveitei e acrescentei umas consoantes, para lhe dar um paladar mais português.
Fragmentos sobre o afecto
”Afecto não é só um sentimento bacana que você tem por alguém muito querido. É também aquilo te afecta.
Actualmente, tudo me afecta. A flor que acabou de desabrochar, o vermelho do pôr-do-sol em São Paulo , a beleza do mar encrespado no Rio, num dia de semi-névoa. A gatinha persa que pula no meu colo no café da manhã. O agudo da Maria Rita em "Santa Chuva". O solo do Coltrane. A abertura da ópera de Wagner.
Parece óptimo: a sensibilidade à flor da pele, a capacidade de sentir aguçada, a percepção do mundo na ponta dos dedos. Mas sensibilidade não é como cigarro, e não vendem sensibilidade com filtro na padaria da esquina.
Por isso, também me afecta quando alguém usa um tom mais estridente na voz, ou um jeito meio estranho de me olhar. Até um silêncio fora de lugar me incomoda. Pior do que isso, me dói.
Se não posso filtrar o que me afecta, se tudo me afecta, no fim tudo me “stressa” de um jeito que me faz não suportar mais o mundo. Sensibilidade demais me afecta demais.
Aos olhos da maioria, parece pura frescura. Mas é como se o mundo me invadisse pelos poros, e me impregnasse tanto e a tal ponto de se tornar insuportável. Qualquer desvio, qualquer palavra fora de lugar me afecta. E ocupa tanto espaço que falta lugar para o meu próprio afecto.”
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