segunda-feira, março 29, 2004

This one is for you …

This one is for you, Curtis, so you can understand it properly. I admire you. You don’t speak Portuguese, and by the little Spanish that you know you could understand some of the things I wrote about you.
I imagine what you having passing, a pale imagination I know, reality overcomes always what we imagine.
You say that now you sit a lot in your computer, so let me take you to a little travel, far away in distance, but in the reach of a mouse click. Let me tell about Portugal, my country.

Portugal is a small European country, just by the Atlantic sea. The summer is worm, with a bright atmosphere; the winter is not very cold, just a little bit of snow in the high lands.
The sunset is always nice, making a yellow, orange, blue, gray and white patchwork in the sky, and giving a marvelous texture to the sea. I love water, the sea, the river, the way both of them get together like a dance.

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Portuguese are adventurous by nature or by faith. I think Portuguese are adventurous because is a case of do or die, like the song, the country is not rich, and people go seek a better life.





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Thirty years ago we had a revolution; I think it was the last romantic revolution in the world. A revolution made without blood, a revolution where the ones that took the power didn’t keep it for themselves. A revolution made with guns but also made with songs and flowers, made of ideals.


If a country is like a person I would say that Portugal then was a teenager, dreaming about how he was going to make the world a better world, a place where the people were equal, in decisions and in goods. I was little then, maybe the romantic was me and not the revolution. That spirit is long gone, now the country is an adult, concerned about money and profits.




I think you would like here, we are a small country but with multiple landscapes. We have old stone gray houses; we have white castles, buildings so deeply worked that don’t seem made of stone.

This as a short visit, you can see a little more here and here.

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sexta-feira, março 26, 2004

Saramago

Ensaio sobre a lucidez - José Saramago

Apresentação do livro e sessão de autógrafos.

Auditório Fernando Távora - FAUP
30 de Março - 15:30

Carolina (II)

Os dias continuavam iguais uns aos outros, mas agora uns já eram mais iguais que outros, tinha mais uma companhia que fazia a diferença. As portas do armário, agora com o vidro e cartolina colada, devolviam-lhe uma imagem de alguém que ela não queria reconhecer mas que lhe parecia familiar. Costumava agora, ter com essa imagem, longas conversas sobre tantos e tão importantes assuntos. Ela não se aventurava a dar-lhe opiniões, nem tão pouco lhe respondia com palavras, mas escutava-a atentamente, interessada em tudo o que dizia, umas vezes concordando, outras vezes entrando em desacordo, não que lho dissesse directamente, mas Carolina conseguia ler isso tudo nas expressões que a imagem fazia.

Os dias passaram a ser feitos ao ritmo dessas conversas, sempre ansiosa que a passassem da cama para a cadeira ou para o sofá, para que pudesse continuar com o assunto do dia anterior, conversa geralmente interrompida pela entrada da mãe que nunca entenderia tamanha intimidade. Tinha finalmente uma amiga, a quem confiava tudo, os seus segredos, os seus anseios, a forma como a vida a magoara, lhe retirara os sorrisos e os sonhos.

Tinha-lhe contado tudo e nunca em seus olhos tinha lido compaixão ou pena, cada qual carrega um fardo vida fora, cada um achando que o do outro é mais leve ou menos volumoso, mas haveria certamente quem carregasse um maior que o seu. Sempre lhe leu força no olhar, força e admiração, e isso sempre lhe deu mais energia para continuar.

Mas o dia chegou em que o vidraceiro entrou, contente, porta adentro com os vidros novos. Carolina ainda tentou dizer à mãe que deixasse assim, que já se habituara, que lhe iria parecer estranho o branco pálido dos vidros antigos de volta. Mas a mãe não aceitou o argumento, para ela era uma questão de símbolos. Aquele armário representava o seu casamento, que ela queria que se mantivesse forte e belo como no primeiro dia, como no tempo em que os dois se endividaram para se darem a um luxo merecido. Claro que não foi o argumento por ela utilizado, falou antes dos vidros já comprados, do dinheiro já gasto, do estilo do armário, do valor do mesmo.

Carolina viu a cartolina a ser descolada das portas de vidro e a sua amiga perdendo a força da imagem, ficando como uma ténue lembrança, sobre o vidro ainda montado. Com os vidros novos colocados a felicidade da mãe contrastava com o abatimento de Carolina.

Porque lhe tinham retirado a amiga que lhe servia de confidente, com quem poderia agora extravasar seus sentimentos. Ela não estava louca, sabia que a hipótese de essa amiga ser o reflexo de outro ser era remota, sabia que essa amiga era certamente uma invenção sua para passar o tempo, mas precisava de algo para manter a aparência de realidade, um vidro que devolvia uma imagem, palavras que não se perdiam no ar porque uma expressão lhes respondia.

Carolina ficava cada dia mais triste porque precisava desabafar e não tinha com quem, precisava contar do desaparecimento da sua amiga, mas com quem, senão com ela, poderia Carolina referir tal facto. Sentia-se presa, amordaçada, muito mais do que a sua condição física lhe impunha.
Tinha uma saudade imensa da imagem, de todas as características que se habituara a atribuir-lhe. Podiam não acreditar, mas para ela, não era um reflexo, não era uma imagem, era uma pessoa pela qual tinha desenvolvido uma amizade forte, uma cumplicidade imensa. Há quem o faça por palavras, por cartas e fotos trocadas à distância, há quem o faça por e-mails, trocados com gosto e carinho, ela tinha-o feito por um reflexo num vidro na porta de um armário.

E sentia-se triste, sentia-se só, porque a sua amiga não estava lá mais, para lhe fazer companhia, para escuta-la, tinha lhe sido retirada sem que ela pudesse fazer nada e por isso Carolina sentia-se roubada, enganada. Já não era uma criança, já não se podia por a falar com bonecos. Era irónico mas era verdade, era assim que se sentia. Com as bonecas que se conservavam no quarto nunca poderia ter uma conversa séria. Quem é que no seu perfeito juízo, iria falar de sentimentos e problemas com uma Barbie?

O reflexo no vidro era o que ela quisesse fazer dele, e ela fez dele uma amiga querida, daquelas que na vida toda se tem o máximo duas, isto tinha ela lido numa revista, daquelas que nos compreendem mesmo quando estamos calados, que nos olham e que sabemos que poderemos contar sempre com o seu apoio. Uma amiga que poderia esperar de si também lealdade, compreensão, carinho imenso.

Carolina tinha agora muito tempo para pensar, sempre o tivera, mas agora ainda mais depois que as conversas se findaram. Pensava que mais importante do que o que os sentidos nos dizem é o que a nossa mente quer acreditar. Que se tinha entregue aquela amizade como se fora real, e não se arrependia. O que aquelas conversas tarde fora lhe tinham dado já não lhe poderia ser tirado, a companhia, o carinho do olhar da imagem, e sobretudo a reflexão conjunta, que lhe tinham permitido conhecer-se melhor, aceitar tudo o que lhe sucedera.

Tinha pena de não ter havido uma despedida, uma última conversa, um último olhar, uma explicação. Queria dizer à imagem o quanto lhe tinha feito bem, precisava de lhe dizer que sempre estivera consciente da situação insólita, que se confidenciara a sua vida o fizera por sua conta e risco, porque precisava de o fazer, que nunca lhe exigira nada, que o fizera por si, para se libertar, para exorcizar as suas mágoas. Não tivera direito a esse adeus, restava-lhe apenas imaginar como poderia ter sido.

E esperava, pacientemente, que um dia alguém se descuidasse com a cadeira e partisse de novo o vidro do armário.

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Este conto é dedicado às relações fortes que se estabelecem entre pessoas que nunca se fitaram olhos nos olhos, cuja única prova da sua mútua existência são palavras, seus reflexos em telas ou papéis. É dedicado aos amigos de quem não conheço as feições.

quinta-feira, março 25, 2004

Carolina (I)

A doença tinha-a confinado ao espaço do quarto, dias passados entre a cama e o sofá, uma vista distante de céu, nuvens e copa de árvores, um rádio que lhe trazia notícias de um mundo que ela já não reconhecia, algumas visitas, poucas, e que cada vez eram mais espaçadas e mais breves. Os assuntos deixaram de existir. As amigas de outrora agora tinham filhos, casas, maridos, empregos, vidas completas e repletas de interesse. A sua era passada entre quatro paredes, duas janelas e duas portas.

A revolta já tinha dado lugar à resignação, a esperança ao desalento. Nada mais havia a fazer do que passar o tempo contando momentos, desfiando minutos, tentando encontrar relações entre eventos, tentando adivinhar a sucessão de acontecimentos para assim se distrair.

Havia um pássaro que vinha pousar num ramo que balouçava bem fora da janela. Costumava aparecer à hora do pequeno-almoço, umas vezes antes da bandeja entrar pelas mãos da Rosana, outras vezes logo depois. Costumava fazer apostas consigo, dia após dia, tentando adivinhar a hora em que o pássaro iria cantar a primeira nota. Já tinha acertado algumas vezes, mas bem poucas, comparadas com as que se enganara largamente.

Assim tinha que ser a sua postura para vencer o tédio dos dias sempre iguais. Tinha que ser imaginativa, libertar-se do corpo que a prendia imóvel, e passear solta por sonhos, por paisagens abertas, linhas de horizonte difusas, por espaços tão amplos quanto o seu quarto lhe parecia diminuto, encerrado, voltado sobre si próprio.

Os dias sempre iguais tinham ocasionalmente uma alteração de rotina, algum facto novo que lhe causava uma emoção imensa por mais simples que fosse. A janela mal fechada que deixa o vento penetrar e brincar com as cortinas fazendo-as parecer oceanos agitados, o pássaro que um dia se atreveu a pousar no peitoril da janela e a testar a resistência da vidraça com o bico, a cadeira que foi encostada com demasiada força à porta do armário e partiu o vidro fosco com cercadura grega que a sua mãe tanto gostava. Fora uma peça namorada tempos a fio até ser possível juntar o dinheiro que a mesma custava. Um luxo, tinha dito o pai, e repetia agora a mãe, mas que ambos mereciam.

O vidro partido da porta do armário causou agitação na casa. Não seria fácil substitui-lo, o desenho da cercadura em transparente já não se fazia a não ser por encomenda. Alguém sugeriu que era uma boa altura para mudarem a decoração, mas a mãe não concordou, não abdicaria do seu armário, teria que ter arranjo.
Foi chamado o vidraceiro que sugeriu que montassem dois vidros transparentes, dos mais baratos, enquanto se tentava, pelo vidro sobrevivente, mandar fazer um novo, melhor seria fazer o par, avisou ele, que assim ficariam iguais o que de outra forma não poderia garantir.

E assim ficou decidido e assim foi feito. Carolina assistia a toda esta azáfama sentada, como sempre, no seu sofá, divertindo-se com a dificuldade do vidraceiro em tirar as medidas do vidro partido, que a porta, de cada vez que abria e fechava, mudava de tamanho, dizia ele. Talvez fosse verdade, talvez fosse uma porta mágica colocada ali por algum mago para que o trabalho demorasse mais tempo e assim ela tivesse mais companhia, uma companhia diferente.

Já não se lembrava de ver o seu quarto com tanta animação. O vidraceiro decidiu que não seria uma porta de armário que o deixaria ficar mal e fez um molde em cartão, que montou no caixilho vazio, abrindo e ficando a porta repetidas vezes. Agora sim, poderia dar as medidas por concluídas. Mais tarde viria montar os vidros provisórios, que já faltava pouco, era só um pouco mais de incómodo.

Apeteceu-lhe dizer que não incomodava, mas enquanto decidia se abria ou não a boca, já ele tinha saído porta fora, deixando um “Bom dia, Menina” suspenso no ar.

Vidros provisórios montados e mais uma celeuma se levantava. Os vidros transparentes deixavam ver o conteúdo do armário, assim não poderia ser, dizia a mãe. Já o vidraceiro se imaginava a ter que retirar aqueles vidros e a ter de colocar uns opalinos quando o pai, sempre bastante prático, arranjou a solução. Colava-se uma cartolina preta pelo interior, veriam como ficaria bem.

Música

Uma das secções por onde passo SEMPRE na FNAC é a que eles designam como “Música do Mundo”. Alguns daqueles sons dizem-me muito, sem que exista explicação racional para o facto, porque não cresci a escuta-la, não me foi ensinada na escola, não faz parte da minha história directa e contudo é como se me revisse naquela sonoridade, como se algumas daquelas melodias estivessem entranhadas na alma. São nomes e sons distintos que em comum tem, principalmente, o facto de não passarem habitualmente na rádio. São músicas qe bebem inspiração em tradições milenares.
Andy Irvine, sozinho ou (sempre bem) acompanhado, Christy Moore, com a sua pronúncia característica e boa disposição, Maria del Mar Bonet com quem tento aprender catalão e acertar a colocação da voz, Fairport Convention, Chiftains, MUZSIKÁS … a secção não ocupa muito espaço mas os nomes que me agradam são muitos.

E porque me lembrei disto hoje?
Porque temos o Intercéltico aí à porta, cada vez mais um evento que une Portugal num gosto comum. Podem ver o programa aqui. E se forem ao Rivoli, nem que para isso tenham de empenhar as jóias da família, quem sabe se não nos encontramos por lá.

quarta-feira, março 24, 2004

Festejando...

Pensei que poderia abrir uma garrafa de champanhe, mas a verdade é que cada vez mais me dou pior com as bolinhas do dito, e depois é que são elas, fico enjoada e lá se vai a disposição para festejar.

Fogo de artifício está fora de hipótese, a tonelada e meia que eu tinha encomendado aqui na vizinha Espanha foi apreendida em Guimarães e agora já não dá tempo de fazer nova encomenda.

Música em altos berros, acho que não seria muito bem aceite pelos vizinhos, já que o prédio tem um isolamento acústico tão bom, tão bom, que já pensei arranjar um caderninho e começar a aferir os ritmos sexuais da vizinhança.

Resolvi então festejar aqui, fazendo um post.

E que estou eu a festejar? Não é a vitória do Porto, embora essa fosse ainda mais digna de referência.

Estou a festejar uma coisa que me deixou feliz, as vossas visitas ao meu blog. Tem crescido nos últimos dias e hoje, com muito espanto meu, estava na lista dos 25 mais visitados do Weblog. Em 25º lugar, quase a sair da tabela, mas lá estava.

Confesso, é verdade, fiz print screen para guardar de recordação. Acho que devia aproveitar porque não adivinho outra oportunidade, o tempo é cada vez menos, apesar da vontade ser cada vez maior.

Gosto de escrever, gosto de ler e gosto de ser lida. Gosto de debater ideias, gosto de conhecer, gosto de aprender, ensinar, partilhar. Mas isso todos vocês sabem como é, não é verdade?

OBRIGADA POR ESTAREM DESSE LADO!

Tempo de recordações

"Como vai Senhor Contente?
Como vai meu caro amigo, Senhor Feliz?
Diga à gente, diga à gente, como vai este país…"


A RTP está em tempo de recordações … e não pude deixar de sorrir ao ouvir esta música. Eu era miúda e adorava. Mas acho que naquela altura eu era fácil de contentar.

Hoje, com a televisão que temos, nem feliz nem contente. Só ainda está ligada pela preguiça de me esticar e apanhar o telecomando, porque o meu maior interesse é despertado por um outro ecran, mais pequeno mas muito mais interactivo.

"… como vai este país…"

Vai diferente, com toda a certeza. Em algumas coisas vai bem mal, mas noutras vai a anos-luz de distância, se por uma lado temos mais violência, menos segurança, por outro temos mais informação ( e desinformação), acesso a muitas mais coisas, podemos ser mais exigentes, aspirar a mais conforto e comodidade. Se por um lado somos mais consumistas, por outro lado também os bens ligados à cultura se tornaram mais acessíveis, quer por serem menos caros, quer por existirem formas alternativas de divulgação, como a Internet.

Sorri da lembrança da criança que eu era então, da forma como olhava o mundo, como sentia a vida. Mas não tenho saudades do Portugal de então, reconheço-lhe certamente virtudes a par com muitos defeitos. E como diz o Povo, para a frente é que é caminho.


terça-feira, março 23, 2004

Amigo

"Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Nao tenhas pressa que o vento
é meu amigo tambem"

José Afonso

Amigo

Olá Amigo

Se a vida fosse simples, não teria metade da graça que tem, isso tenho por certo. Mas sei que também não teria metade dos problemas, das dores ou angústias.

Se em cada momento tivéssemos certezas de tudo, saberíamos sempre o nosso caminho, mas onde ficariam a surpresa, a espontaneidade, onde ficaria a emoção da descoberta?

Não tenho certezas absolutas, sei o que sinto em cada momento, não sei se daqui a alguns anos pensarei da mesma forma, sentirei com a mesma intensidade, com as mesmas cores.

As questões que me colocaste são extremamente pertinentes, e só provam a ideia que tinha de ti, de alguém com uma sensibilidade especial e uma boa capacidade de avaliar situações.

Talvez seja como tu dizes, alguém com alguma experiência de vida.

Muitas são questões que eu já me coloquei, que já me foram colocadas, ou que nos colocamos mutuamente. São assuntos debatidos, muitas vezes aceites em teoria, mas que sabemos que só a pratica e a vivência de situações permitirá ter certezas.

Conseguir debater uma situação, sem cometer o mesmo erro, isto é, sem revelar questões que não são só minhas, é extremamente difícil, quiçá impossível.

Sempre me coloquei por inteiro no que faço, e acabei por ter a mesma postura na net, esquecendo que esta é uma realidade diferente, realidade feita de reflexões disformes em espelhos espalhados, em que cada um vê o que quer ver, em que cada um mostra o que quer mostrar.

Tenho gostado imenso de falar contigo, já tinha deixado de ser meu hábito ficar até de madrugada na "conversa". Acho que o que me atraiu nesta forma de utilização da internet são as conversas que eu não me imagino a ter cara a cara, por timidez, decoro, falta de oportunidade, tempo, e sei lá o que mais.

E depois de descobertas estas conversas, é difícil abdicar delas. E ás vezes ficamos presos a um ecran vazio à espera que algo se mostre, porque nos apetecia mais do que trabalho, mais do que um livro. Apetecia-nos espreitar directamente para o interior de outro ser, apetecia-nos deixar que alguém compartilhasse o que nos vai na alma.

Apetecia-nos observar a vida por uns outros olhos, saber de outras experiências.

Os momentos são raros, mas por vezes acontecem. Desenvolvem-se cumplicidades, atracções, dependências, ideias de sentidos ocultos, destinos ... uma miríade de sensações porque naquela conversa estamos a colocar tudo o que desejaríamos sentir nesse momento.

Fui escrevendo isto, no meio de descrições de portas e janelas, tijolos e argamassas... saltando entre janelas. E é também isto que me atrai na net, a inspiração para a escrita, para a reflexão, sozinha ou acompanhada.

E o poder deixar fluir as sensações, poder ser suficientemente louca para falar sério, ou demasiadamente ajuizada para poder brincar, para me poder deixar levar, simplesmente, ao sabor de uma frase, de uma palavra. Buscar as imagens, brincar com elas, adorar escrever, adorar ver o efeito das palavras, em mim e nos outros.

Tens aqui um espelho de mim, nesta altura, neste momento. Espelho fiel nunca será, basta que a inclinação mude para que o que mostre já seja diferente. Vale pelo que vale. Para mim vale essencialmente pelo prazer que me deu.

Um beijo

Amiga

segunda-feira, março 22, 2004

A razão do nome

Eu já tinha falado da razão do nome no blog mas relendo agora acho que a explicação não foi dada convenientemente.

“Puta de Vida” é uma expressão que todos conhecemos e que associamos às coisas más que nos acontecem e contra as quais nos sentimos impotentes. Puta de vida é aquela que nos consegue retirar sistematicamente a esperança, em que os maus momentos estão sempre pairando como uma ameaça. Damos um passo em frente e a vida empurra-nos de volta dois passos. Em que os planos mais simples podem sair gorados por uma quantidade de circunstâncias adversas.

Esta foi a inspiração para o nome do blog, nem tudo tem sido rosas na minha vida, e o último par de anos conseguiram minar muitas coisas que eu tinha tomado como certas, fortes e perenes. Hoje não tenho as mesmas certezas que tinha há alguns anos, a mesma confiança...

Mas isso foi a ideia no momento inicial que rapidamente foi perdida. Não gosto de carpir mágoas, não acho que a solução esteja aí. Prefiro apreciar as coisas bonitas que também me acontecem, apreciar o belo com que me cruzo.. Acho que sou do tipo "que acha que existem sempre outras formas de encarar as situações, existem sempre janelas que se abrem quando as portas estão trancadas". E este blog é uma dessas janelas, cada vez mais ampla, mais aberta, qualquer dia já se tornou uma janela de sacada, só faltando lançar uma escada para se tornar uma porta.

E foi assim, Vizinho, que tudo aconteceu.

domingo, março 21, 2004

Era uma vez ...

Era uma vez um reino distante habitado por sentimentos e sensações.

Havia paixões, amores, amizades, ódios, tristezas, alegrias, havia também orgulhos, preconceitos, avarezas. Viviam separados por castas, as paixões com paixões se davam, os ódios alimentavam outros ódios, as tristezas contagiavam-se mutuamente.

As invejas eram como hienas, sempre dissimuladas na abordagem, ávidas pelo saque mas sem coragem para assumirem a vontade.
Os orgulhos mantinham-se à parte, ignorando completamente os demais.
As desconfianças eram rios tumultuosos que minavam tudo à sua passagem.
Os amores eram quais frágeis flores que necessitavam todo o cuidado para não perderem o viço.
As ignorâncias eram felizes e inocentes, já que nada sabiam nada as perturbava.
As raivas eram como nascentes de águas quentes e sulfurosas.

Este era o reino de Norte, onde as castas viviam isoladas. A Sul existia outro reino, onde os sentimentos se misturavam.

Os amores eram contaminados por dúvidas e desconfianças. Os desalentos eram diluídos pelas alegrias, as saudades mitigadas pelas recordações.

No reino de Norte os dias decorriam sempre iguais, no reino de Sul ninguém conhecia o seu futuro.

(apeteceu-me ser criança e contar uma história que começasse por: ERA UMA VEZ...)

Amor e paixão

Erro simplista e infantil o meu, o de confundir amor e paixão. O de tomar a parte pelo todo.
As paixões são fortes e efémeras, podem ser lavadas facilmente pelas gotas de orvalho da manhã. Ou podem transmutarem-se em amores, mais constantes, calmos e confiáveis.
Uma paixão é uma montanha russa, cheia de adrenalina. Um amor é um carrossel de criança, vai dando as suas voltas muito mais calmamente. As paixões têm a urgência, os amores todo o tempo do mundo.

Mas ás vezes confundimos as definições tentando com isso dar notícia da intensidade com que sentimos. Como se ao dizer paixão, usássemos um superlativo, e estivéssemos a falar de um amor intenso, forte, de um amor apaixonado, que se mantém palpitante. Mas paixão não é um superlativo de amor. Amor e paixão são efectivamente sentimentos diferentes, que em determinada altura podem mesmo coexistir.

sábado, março 20, 2004

Conhecer

Conhecer as pessoas como um livro.
Não ficar só pelas informações da capa, nem se ater aos pequenos resumos e opiniões diversas que colocam nas badanas.
Mas folhear cada página, ler com cuidado tudo o que contam.
Apreciar a forma como os capítulos se sucedem, as histórias que narram, o testemunho das experiências que transmitem.
Apreciar as imagens que nos incendeiam a imaginação.
E ler quantos livros forem colocados ao nosso alcance.
Era isto que eu gostava de fazer sempre, de poder fazer sempre.

quinta-feira, março 18, 2004

P... de vida!

Há algum tempo atrás, para ilustrar este post , fui buscar uma foto de Curtis Neeley .
Ontem o autor da fotografia deixou um comentário no blog, com curiosidade pelo motivo que me teria levado a usar a sua fotografia.

Quando visitei a sua página, só reparei nas belas fotos, o tempo foi curto e nem me fixei na sua biografia. Explicado o motivo, tradução do post enviada, e claro, parabéns dados pela qualidade das fotos, não esperava resposta ao meu e-mail.

Mas recebi … e com isso fiquei a saber que hoje quem tirou aquelas fotos se encontra tremendamente limitado na sua mobilidade e na sua capacidade de executar qualquer tarefa, mercê de um acidente violento que o deixou em coma durante meses.

Imagino que a vida esteja a ser tremendamente difícil, pela limitação a que está sujeito e pelas condicionantes económicas que certamente se colocam na sequência de um acidente tão violento e com tantas sequelas.



Não deixem de visitar o site e apreciar o seu trabalho, desejando que mesmo com as limitações impostas posso continuar a mostrar-nos a sua forma de olhar o mundo.



Que tenhas muita força, Curtis!

quarta-feira, março 17, 2004

A duração de uma paixão!

Foram-me dadas muitas respostas e muitas dúvidas também. Não sei qual é a duração de uma paixão, mas acho que tem razão quem disse, depende da pessoa e do objecto da paixão.
A minha paixão pelo blog ainda não esmoreceu, e já lá vão quase 9 meses, uma gestação inteira. Mas a minha paixão pelo blog está arreigada numa paixão mais antiga, que é a minha paixão pela escrita, a minha paixão por palavras, a minha paixão por ideias e por sentimentos. E essa paixão, posso afirmar com toda a convicção, me irá acompanhar vida fora, quantos anos quantos somar a minha existência e consciência neste mundo. Mesmo que o meu corpo já não responda sei que o meu cérebro vai continuar a escrever histórias como agora faz noite dentro, ou quando estou presa no trânsito, ou no meio de outras coisas que vou fazendo. Vai continuar ensaiando frases que tantas vezes acabam diluídas na memória porque não existe suporte que as cristalize.

A duração de uma paixão pode ser uma vida inteira.

terça-feira, março 16, 2004

Será?

Li num blog, de que não guardei nem o nome nem o link, que a vida de um blog ronda em média os 6 meses.
Será essa a duração de uma paixão?

domingo, março 14, 2004

Transcrições

O Blog do Bidé acha que as coisas mais chatas são as transcrições que proliferam um pouco por todos os blogs, que uns as fazem por



O post deixou-me a pensar. Desde já me confesso culpada, culpada, várias vezes culpada, se não fosse pelo presente post, por todas as outras vezes em que aqui coloquei letras de músicas que eu obviamente nunca escrevi, poemas que muito me dizem mas cujas palavras também não saíram da minha lavra, fotos de sítios que nunca visitei, quadros que nunca pintei. E se quiserem ainda pelas muitas vezes que me transcrevi a mim própria colocando textos já escritos para outros fins, noutros momentos, partes de mim que já deixaram de existir transformadas que foram pela vida.

Porque o faço? Por nenhuma das razões apontadas, mas por uma quinta, que espero julguem válida, o desejo de PARTILHAR. Assumo que terá uma percentagem de ingenuidade da minha parte o meu desejo de partilhar coisas com pessoas que não conheço, que nunca vi, e pensar que as mesmas se possam interessar, mas a verdade é que eu também me interesso pelas muitas partilhas deixadas em outros blogs, uma música que nos deixa em sintonia, um poema que espelha a nossa alma, uma foto que nos toca de uma forma intensa.

Claro que gosto de partilhar o que escrevo, o que sinto, o que penso, o que faço mas também gosto de partilhar as coisas de que gosto. E tantas vezes o que eu gosto diz mais de mim própria e do meu estado de espírito do que todas as palavras que em determinado momento eu pudesse escrever.

E para reassumir a minha culpa de transcritora crónica, aqui fica mais uma em jeito de remate. Ironia das ironias, transcrevo-me a mim própria, por não encontrar quem melhor diga aquilo que estou sentindo.


    “Às vezes, com o meu blog, sinto-me como um DJ, que apenas faz a selecção da música que outros criaram.
    Mas ainda assim, com essas melodias, das quais não tenho nem a honra nem a culpa, estou a tomar uma posição, a passar uma mensagem.
    Afinal é só uma questão de instrumentos…
    Algumas vezes toco letras, umas a seguir às outras, formando palavras que contam do que se passa à minha volta.
    Outras vezes toco frases já escritas, imagens já definidas, e o “eu” está na escolha que faço.” 3-12-2003

Mar

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O mar e o rio

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Estive a ver as ondas do mar, de perfil, na entrada da Barra do Douro, com a Afurada por fundo.
O mar eleva-se e começa a borbulhar como se fervesse e não sei se é do vento, se do ponto de vista, deixa para trás um fumo branco feito de gotículas em suspensão.
Nunca tinha reparado!
Olhado assim, este braço que mar que fecunda o rio, parece fervente de paixão, em pura ebulição.

sábado, março 13, 2004

Tocando Em Frente

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei.
E nada sei.
(…)
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu sou...e pela estrada eu vou...
(…)
É preciso chuva para florir.
Todo o mundo ama um dia...todo o mundo chora.
Um dia a gente chega ...o outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história.
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz....


Almir Sater e Renato Teixeira

sexta-feira, março 12, 2004

Em memória de …

Não percebo como alguém consegue colocar uma bomba para rebentar numa estação cheia de gente.
O que é que pensam quando fazem tal coisa? Em que é que pensam?
Que ligações foram cortadas no seu ser para deixarem de sentir, para deixarem de pensar?
Num cenário de guerra, num conflito acesso, acho que a consciência fica adormecida, acho que a sensibilidade fica entorpecida. Dizem que os fins justificam os meios, embora eu não concorde. Acho que num cenário de guerra, é reacção e não acção.
Mas Madrid não é um cenário de guerra!
Como pode alguém fazer tal coisa e viver a sua vida normalmente nos dias que se seguem? Como podem simplesmente esquecer as vidas que o atentado ceifou?
Uma pessoa, dez pessoas, cem pessoas, um milhar, não é a quantidade que faz a diferença, embora chame mais a atenção. Uma já era UMA demais.
Retaliação por outras guerras ou forma de luta por uma independência que cada vez tem menos razão de ser. Nenhum motivo é motivo.

quarta-feira, março 10, 2004

A Confiança

Ao ler este post (SEM TÍTULO- 3/9/2004) da Didas, lembrei-me de um texto meu. Outras palavras mas, para mim, uma sensação idêntica, um recuar no tempo, um sentir que existe algo mais forte que se nos sobrepõe.
Que tudo se resolva, é o que te desejo.


    A confiança é algo efémero!
    Quando parece que tudo está sob controlo, que finalmente iremos conseguir realizar alguns dos nossos desejos, algo acontece para nos lembrar que somos títeres nas mãos de uma qualquer entidade.
    O destino nunca nos pertenceu, os percursos que fazemos não são vontade nossa, mas uma reacção aos obstáculos que nos vão sendo colocados no caminho.
    O que fazemos, o que queremos, é sempre um resultado condicionado por tudo o que nos acontece.
    Na adolescência pensava poder vir a ser dona do meu destino, no momento em que deixasse de estar dependente dos pais. Foi sonho curto, desfeito ainda no limiar da vida adulta.
    Os sonhos grandiosos de um dia conquistar o mundo, de ser alguém diferente, único, depressa se desvaneceram.
    A vida tem que ser vivida momento a momento. Planos não são possíveis, apenas objectivos em traços largos.
    Mas desistir dos sonhos, nunca!
    Isso é que me dá alento para superar todas as provações.
    Nem sempre o caminho entre dois pontos é uma linha recta, pensando bem, nunca o é. Pode ser uma linha, mais ou menos curva, mais ou menos sinuosa, mas sempre uma curva.
    Mas, se não perdermos o ponto de onde partimos e o ponto onde queremos chegar, o percurso é possível.
    Gosto de pensar que isto é verdade, consola-me, devolve-me um pouco da confiança retirada.

domingo, março 07, 2004

Ser mulher!

Nunca dei grande importância ao dia da mulher, nem à necessidade da existência de um dia que celebrasse as mulheres. A minha ideia de igualdade dizia-me que se não existia um dia que celebrasse o homem porque haveria um dia especialmente dedicado às mulheres. Mesmo a discriminação positiva é uma discriminação porque evidencia o facto de haver necessidade de impor qualquer coisa, quer ela seja uma cota de sexos, de raças, de limitações físicas ou mentais, de crenças…quer ela seja um dia para pensar especialmente em alguém ou em algo.

Com a idade os olhos vão-se abrindo para outras realidades que não só as que me rodeiam, e vou constatando que são necessários símbolos para fazerem as ideias perdurarem e singrarem. Que existem muitas mulheres para quem, mesmo que seja num único dia do ano, um tratamento especial será bem acolhido. Não celebro o dia da mulher mas hoje apetece-me falar dele, apetece-me falar delas, apetece-me falar de nós.

O que é ser mulher neste início do século XXI?

Seguramente coisas muito diferentes para cada uma de nós. Não existe um “Ser Mulher”, mas vários certamente. Cada uma terá os seus trunfos e as suas derrotas a relatar na relação entre sexos. As vitórias de umas serão derrotas para outras, o não ter conseguido passar a mensagem. O homem que ajuda em casa para algumas será a conquista, mas para outras será o homem que ajuda, que não faz, que não toma a seu cargo a responsabilidade de pensar e executar, que só ajuda quando alguém pede ou já está a fazer.

E profissionalmente também temos visões diferentes, sem dúvida. Algumas terão prazer (e a possibilidade) em ficar em casa e apreciar o crescimento dos filhos, outras preferem a emoção de uma ocupação agitada, o contacto com muita gente, desafios, obstáculos a ultrapassar, o prazer da conquista, e há também as que gostam de tudo um pouco e conciliam uma vida em casa com os filhos e uma profissão gerida à distância, ou desenvolvida em casa, ou a tempo parcial. Nem sempre cada uma tem o que prefere, o que teria sido uma opção. Nas oportunidades também não existe igualdade, nem entre sexos nem dentro do mesmo sexo. Vamos gerindo o que nos é dado e o que é conquistado da melhor forma. O que TODAS buscamos, acho que é igual ao que TODOS buscamos, A FELICIDADE, que mais poderia ser! Uma palavra que engloba tudo o que lá quisermos colocar, tanto ou tão pouco.

Para mim ser mulher é ser eu própria, é sentir com força a vida, é fazer o que gosto, como gosto, é assumir que sou diferente e apreciar essa diferença. É dividir-me entre tudo o que gosto, repartir-me pelos muitos objectivos que tenho. É apreciar a sensualidade, a emotividade mas também a razão e a lógica. É gostar de partilhar, de ensinar e de aprender. É apreciar a companhia, mas também os tempos que passo só comigo. Esta é quem eu sou, e sou MULHER.

E vocês quem são?
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Dia Internacional da Mulher – a história.

Sem título

Hoje de tarde resolvi digitalizar alguns desenhos, com muitos muitos anos, feitos no secundário e no primeiro ano da faculdade. A uma conclusão cheguei. Pequeninos, tem melhor aspecto do que na realidade. Perdem as imperfeições, as cores ganham mais brilho. No caso dos desenhos, posso até melhorar o enquadramento, equilibrar melhor a posição dentro da folha.
Deixo aqui um deles para amostra, uma brincadeira com cores.

laranja2.jpg

sexta-feira, março 05, 2004

O prazer da descoberta


    "(...)
    Populações geneticamente homogêneas, que procriem majoritariamente ou exclusivamente entre si, sempre serão muito vulneráveis a infecções e defeitos genéticos.
    (...)
    Quase todos esses vírus de computador que aparecem nas manchetes foram criados para explorar falhas de segurança do Outlook, o programa de email da quase todos os usuários de Internet.
    (...)
    Um vírus bem sucedido é aquele que consegue fazer o seu hospedeiro circular e infectar o máximo de novos hospedeiros. Se o hospedeiro estiver incapacitado ou morto, ele não poderá espalhar o vírus.
    (...)
    Hoje em dia, os vírus estão praticamente inofensivos. Atravancam a rede sim, geram um número gigantesco de mensagens de erro, sim. Mas nunca mais ouvi falar de vírus cometendo danos irreversíveis em um computador.
    (...)
    Não fosse o monopólio da Microsoft e do Outlook, nada disso estaria acontecendo."


Não deixe de ler o texto aqui.

quinta-feira, março 04, 2004

Nós por cá …

Mariana

Já faz tempo que não te escrevo … Já faz tempo que não passo para o papel as longas cartas que te escrevo mentalmente.
Porquê? Porque acho que não posso começar da maneira habitual, como já te deste conta.

“Como estás tu? Nós, por cá, todos bem!”

A segunda frase já deixou de fazer sentido há algum tempo, já nem recordo o dia em que ela fez sentido pela última vez.

“Nós, por cá, todos bem!”

Nós continuamos por cá, mas a distância da minha terra, do meu sol, das minhas alegrias, pesa-me cada vez mais.
Parece que esta noite interminável me escurece também a alma, parece que a temperatura gélida, gela mais do que o meu corpo.
Sinto-me perdida e sem ninguém com quem falar, sem ninguém com quem ter aquelas conversas loucas, noite fora, como costumávamos fazer em casa da tua avó.
Nunca pensei que a barreira da língua pudesse ter um peso tão grande. Eu falo, eu escuto, mas falta-me a eloquência da língua materna, daquela cujos sons nos acompanham desde o ventre da nossa mãe.
Sinto saudades de brincar com as palavras, dos trocadilhos marotos que me conheces. Faço-os agora solitariamente, sem público, sem retorno. Sinto a solidão das palavras que se perdem lentamente, sem ninguém que as escute.

“Nós, por cá …”

Cada vez, somos menos nós e mais, eu e ele. Cada vez mais, menos temos em comum, não os interesses, que esses não mudaram, mas o tempo de os apreciar, o tempo de fazer coisas em conjunto, de rir da loucura do outro.
Somos duas sinusoidais desfasadas e de frequências diferentes. Ocasionalmente encontramo-nos, cruzamo-nos, mas a maior parte do tempo sabemos apenas que o outro existe.
Porque deixei a minha vida chegar a tal ponto? Porque estava distraída, preocupada com pequenos detalhes e não conseguia enxergar a totalidade. Porque achava que tudo estava seguro, que a argamassa era forte e que a casa nunca desabaria. E a argamassa era forte, sim, mas os tijolos eram fracos e foram-se tornando em pó, deixando unicamente um rendilhado do que outrora foram as suas juntas.
Sinto a tua falta, a forma como sempre conseguiste fundir-te connosco, aproximando tudo e todos ainda mais.

“…por cá…”

Temos por cá belas auroras boreais, salmão de óptima qualidade, frio que dispensa frigoríficos, belos homens louros de cativantes olhos claros! Temos por cá paisagens de beleza tão pura que até dói a vista, que até fere a alma.

“Nós…”

Faz-me uma visita, só assim o “nós, por cá” fará sentido de novo. Preciso de ti, preciso do teu abraço, preciso da tua amizade, da tua companhia, do teu calor para derreter estas neves eternas que teimam em cair em avalanche sobre a minha alma.
Da tua amiga que nesta altura te quer mais do que a ela própria.

Madalena

quarta-feira, março 03, 2004

Fernão Capelo Gaivota

gaivota2.jpg

(E.de Araujoh.)
Como surgiu a inspiração para escrever o livro "Fernão Capelo Gaivota"?

(R.Bach)
Temos muitos níveis dentro de nós.
Esta história foi me dada por um desses níveis.
Cada um tem uma história para contar.
Eu estava procurando quem eu era e a história apareceu para mim como um filme diante de meus olhos. Eu vi o filme brilhante e escrevi tão rápido quanto pude, mas num determinado momento o filme parou e uma parede estava em minha frente.
Foi como este nível tentasse dizer que eu não estava inventando esta história, que esta história não era minha.
Ela estava sendo dada para mim por alguém. É como se eu ouvisse: "Se você acredita que você está inventando esta história tente terminá-la." Eu não podia, eu não conseguia terminar.
Oito anos depois, muito longe de onde eu estava quando a história foi me dada pela primeira vez, às 5 horas da manhã eu acordei. Havia tido um sonho que era o final desta história. Acordei, fui até a máquina de escrever e escrevi o final e pensei: "Isto é o que acontece! Este é o final da história!".
Tive de encontrar este presente sozinho (o final da história) para depois poder compartilhar com outras pessoas, com outras gaivotas.

http://www.conscienciacosmica.com.br/richardbach.htm

Os livros

"Os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade, os animais, o tempo e o seu próprio conteúdo."
Paul Valéry

terça-feira, março 02, 2004

Depressão

Sentem que um dia é igual ao outro,
que nada existe que os faça ansiar que o tempo passe,
é a monotonia completa e absoluta.
Um descer os braços,
o olhar que não tem vida ...
O quão pouco gostam de si,
daquilo que fazem,
com quem convivem.
é uma vida sem emoção,
uma vida sem sedução,
uma vida de sentidos adormecidos,
de sentimentos encurralados,
Uma vida feita de páginas de calendário,
de projectos adiados,
de planos esquecidos.


(inspirado aqui)

2d em 3d

O Vmar descobriu um site espantoso.
Duas das minhas paixões de longa data, juntinhas. Duas coisas que eu adorava mesmo quando nem sabia direito o que eram. Estou a falar de Legos e de Escher.

lego_ascending.jpg e-ascending.jpg