domingo, março 14, 2004

Transcrições

O Blog do Bidé acha que as coisas mais chatas são as transcrições que proliferam um pouco por todos os blogs, que uns as fazem por



O post deixou-me a pensar. Desde já me confesso culpada, culpada, várias vezes culpada, se não fosse pelo presente post, por todas as outras vezes em que aqui coloquei letras de músicas que eu obviamente nunca escrevi, poemas que muito me dizem mas cujas palavras também não saíram da minha lavra, fotos de sítios que nunca visitei, quadros que nunca pintei. E se quiserem ainda pelas muitas vezes que me transcrevi a mim própria colocando textos já escritos para outros fins, noutros momentos, partes de mim que já deixaram de existir transformadas que foram pela vida.

Porque o faço? Por nenhuma das razões apontadas, mas por uma quinta, que espero julguem válida, o desejo de PARTILHAR. Assumo que terá uma percentagem de ingenuidade da minha parte o meu desejo de partilhar coisas com pessoas que não conheço, que nunca vi, e pensar que as mesmas se possam interessar, mas a verdade é que eu também me interesso pelas muitas partilhas deixadas em outros blogs, uma música que nos deixa em sintonia, um poema que espelha a nossa alma, uma foto que nos toca de uma forma intensa.

Claro que gosto de partilhar o que escrevo, o que sinto, o que penso, o que faço mas também gosto de partilhar as coisas de que gosto. E tantas vezes o que eu gosto diz mais de mim própria e do meu estado de espírito do que todas as palavras que em determinado momento eu pudesse escrever.

E para reassumir a minha culpa de transcritora crónica, aqui fica mais uma em jeito de remate. Ironia das ironias, transcrevo-me a mim própria, por não encontrar quem melhor diga aquilo que estou sentindo.


    “Às vezes, com o meu blog, sinto-me como um DJ, que apenas faz a selecção da música que outros criaram.
    Mas ainda assim, com essas melodias, das quais não tenho nem a honra nem a culpa, estou a tomar uma posição, a passar uma mensagem.
    Afinal é só uma questão de instrumentos…
    Algumas vezes toco letras, umas a seguir às outras, formando palavras que contam do que se passa à minha volta.
    Outras vezes toco frases já escritas, imagens já definidas, e o “eu” está na escolha que faço.” 3-12-2003

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