Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la.
Quantos, se pensam, não se reconhecem
Os que se conheceram!
A cada hora se muda não só a hora.
Mas o que se crê nela, e a vida passa.
Entre viver e ser.
Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa.
Se é para nós que cessa.
Aquele arbusto.
Fenece e vai com ele.
Parte da minha vida.
Em tudo quanto olhei fiquei em parte.
Com tudo quanto vi, se passa, passo.
Nem distingue a memória.
Do que vi do que fui.
Se recordo quem fui, outrem me vejo.
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo.
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente.
Não é de mim nem do passado visto.
Senão de quem habito.
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada.
E quem sou e quem fui.
São sonhos diferentes.
Fernando Pessoa
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