É difícil aceitar a morte. Mas mais difícil é compreender a morte.
Como é que tudo que uma pessoa foi, de repente não é mais? Para onde vão os seus pensamentos, a sua sensibilidade, os seus conhecimentos? O que se passa com todas as recordações, todos os sonhos, toda a informação que foi recolhendo ao longo da vida?
Nós somos computadores sofisticados, com uma linguagem de programação que só agora começamos a decifrar. Se pensarmos bem não somos muito diferentes dos computadores que criamos, apenas mais evoluídos, mais refinados.
Se imaginarmos que alguém nos criou, podemos estabelecer as premissas colocadas por esse ser e ver que não diferem muito do que vislumbramos possível para as máquinas que nós próprios criamos.
Os nossos computadores utilizam linguagem binária, tudo são zeros e uns. A nossa linguagem genética é quaternário, tudo é Citosina, Guanina, Tiamina e Adenosina. A conjugação destes quatro ácidos permite estabelecer um código, software bastante elaborado que permite recriar cada indivíduo a partir de uma única célula.
Mas se neste aspecto a comparação com um computador me parece fácil e directa, em termos de memória não tenho certezas.
Se a comparação fosse directa o nosso cérebro é como um disco duro que arquiva toda a informação, em que tudo está guardado e preservado enquanto a integridade física do cérebro é mantida.
Mas isto não é muito reconfortante, significa que com a morte tudo se esvai, que tudo o que consideramos ser a nossa personalidade é destruído com a morte, que os momentos belos que vivemos e que douramos na nossa recordação são destruídos pela morte e é como se nunca tivessem existido.
Mais agradável é pensar que para além deste corpo físico existe uma entidade não palpável e não destrutível, que guardará tudo aquilo que consideramos ser o nosso ser. Como se existisse uma grande unidade de backup garantindo que mesmo que o nosso disco duro seja destruído, toda a informação que nele existia é preservada, e possa mesmo ser reposta numa outra unidade de arquivo.
Abril de 2001
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