domingo, abril 25, 2004

A puberdade de uma nação.

Eu gostava de dizer alguma coisa a propósito dos 30 anos do 25 de Abril, não gostava de deixar passar sem referência a data, agora que tenho um blog onde posso partilhar o que penso e o que sinto.

Se o 25 de Abril não tivesse acontecido em Portugal, se o estado das coisas se tivesse mantido, ou evoluído em continuidade, nesta altura o mais provável era eu não ter um blog. Mas admitindo que o tinha, deveria submeter previamente cada post a uma entidade censória para a mesma determinar se o que escrevo podia ser publicado, ou se teria de sofrer alterações, cortes, mutilação. Quereria saber quem eram as pessoas com que me dava, de que falávamos, onde nos reuníamos, se a reunião fosse possível.


Se o dia 25 tivesse sido apagado da nossa história, estaríamos num país vivendo à volta do seu umbigo, ignorando as influências do exterior, vivendo com expectativas mínimas, sobreviver e quem sabe um pouco mais.


Hoje acordei com o rádio entrevistando o que designaram a geração de Abril, pessoas com quase 30 anos, nascidas ainda no calor da revolução. Para todos o 25 de Abril era já um facto distante, conhecido fundamentalmente dos livros de história escolares.


Eu não estudei o 25 de Abril na escola. Eu senti o 25 de Abril como criança, vi-o reflectido nos que me rodeavam. Se fosse um pouco mais velha tê-lo-ia vivido um pouco mais, se habitasse uma cidade grande teria saído para as ruas, ter-me-ia misturado com a multidão, sentir o prazer de ser parte de um conjunto, fazer parte da história. Eu senti o 25 de Abril nos livros que fui lendo, nas histórias que me foram contando, nas recordações difusas que aprendi a interpretar com o tempo e a idade.

Já o disse antes por isso perdoem a repetição. Comparo Portugal a uma pessoa, e o nosso país, na época da revolução era um adolescente, porque era sonhador, idealista, porque acreditava que poderia tornar-se um país melhor. O país era um adolescente porque antes fora uma criança, filha de pai tirano e castrador, que não lhe dava o direito de se exprimir, o poder da decisão, que impunha a sua ideologia e castigava quem a não seguia.

Acho que o 25 de Abril foi a última revolução romântica no nosso mundo, dificilmente algo equivalente voltará a suceder, a maior parte dos países são já adultos pragmáticos, conservadores, onde o sonho morreu já. Alguns são ainda crianças travessas, ou mimados, ou negligenciadas e não tem espaço para o sonho. Uma revolução como a nossa, feita com armas sim, mas também feita com música e flores, uma revolução em que a violência nunca foi a primeira opção, uma revolução que se baseou no apoio popular que sabiam existir, no descontentamento de uma nação que vivia com medo, uma revolução como a nossa é uma marco neste nosso planeta em que as mortes se sucedem, em que o respeito pela vida humana é todos os dias esquecido, não só pelos indivíduos mas também pelas instituições e pelos governos que se dizem democráticos.


“Somos filhos da madrugada…”
Assim me sinto eu, filha de uma madrugada com 30 anos de vida…

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