Existem dias em que a inspiração não chega. Hoje é um desses dias.
Apesar do mar que se estende à minha frente, da sua ondulação ligeira e brilho vivo, apesar da espuma branca que se forma quase sob os meus pés, apesar do farol que se recorta contra o céu, sobre o molhe, apesar das gaivotas que passam lentamente à frente dos meus olhos, perscrutando o mar em busca de peixe, apesar do sol que brinda o mar, apesar de tudo não consigo escrever. Já ensaiei inícios vários, abandonados algumas linhas depois não satisfeita com o resultado. O erro deve ser certamente meu que quero contar algo que apenas se sente. Uma descrição é pálida, falta-lhe o calor do sol que me chega, reflectido pela ondulação do mar, falta o encanto da música, faltam todos os pormenores em que eu me prendo mas que contados perdem a graça.
A ferrugem na salamandra não é sinal de degradação, mas a marca do tempo e da proximidade do mar. Gosto da ferrugem, gosto da textura da ferrugem em cima do metal, do modo como lhe vai alterando a forma. A ferrugem nos metais é um pouco como as rugas nos humanos, existem porque estamos expostos, porque sorrimos, porque choramos, porque sentimos, porque vivemos. O ferro sem marcas ainda não viveu, ainda não cumpriu os seus desígnios.
Não consigo transmitir a beleza da corda escurecida pelo uso quando o sol desenha com sombras os fios que se entrançam.
Existem dias em que a inspiração tarda em chegar …
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